domingo, 11 de abril de 2010

O Flagrante

José olha fundo nos olhos de Roberto. Os dois levantam suas taças.
– A nós.
– A nós.
Bebem, olhos nos olhos. Nisto a porta do apartamento se abre e entra uma mulher.
– Sueli! - exclama José....
– Arrá! - diz Sueli. – Te peguei!
– O que você está fazendo aqui?
– Me enganando. E com outro homem!
– Sueli, em primeiro lugar, você não me "pegou", porque nós não estávamos fazendo nada. Em segundo lugar, mesmo que estivéssemos fazendo alguma coisa, eu não estaria "enganando" você, pela simples razão de que nós não somos mais casados. Nos divorciamos há muito tempo e eu não devo mais satisfações a você. Se você tem medo de ser enganada, preocupe-se com seu atual marido e...
– Você quer ficar quieto, José? – interrompe Sueli – não estou falando com você. Estou falando com ele.
José aponta para Roberto.
– Com ele?
– É. Meu atual marido.
– Seu marido?!
Roberto está quieto. José, para Roberto:
– Você não me disse que era casado!
– Cala a boca, José – ordena Sueli. Depois dirige-se a Roberto.
– E então, o que você me diz? Dois meses de casado e você já anda com um qualquer. Seu pilantra!
– Um qualquer, não – protesta José. – Lembre-se que eu já fui seu marido.
Sueli começa a chorar. Roberto se aproxima dela.
– O que é isso, Sueli? Fique calma. Nem parece você. Vamos, Suelizinha...
– Não chama de Suelizinha que ela não gosta – instrui José.
Tarde demais.
– Não me chama de Suelizinha!
– Deixa que eu sei fazer – diz José, afastando Roberto e abra¬çando Sueli. – Vamos, Su. Que bobagem.
José beija a orelha de Sueli e mostra para o outro.
– A orelha é importante. Ó.
– Morde ou só beija?
– Pode dar uma mordidinha.
– Deixa eu tentar.
Roberto afasta José e abraça Sueli. Começa a mordiscar sua orelha. Dá resultado. Sueli se acalma. Mas agora José está enciumado.
– Que foi? – pergunta Roberto, notando a cara de José.
– Nada.
– Nada, não. Você está chateado.
– Não é nada.
– Faz cafuné nele — diz Sueli.
– O quê?
– Faz cafuné que ele gosta. Em cima da cabeça.
Roberto começa a fazer cafuné em José. Ao mesmo tempo, mordisca a orelha de Sueli. Nisso a porta se abre e entra outra mulher.
– Anita! – exclama José.
– Eu sabia. Segui você até aqui porque sabia que ia encontrar uma cena assim. Você não tem vergonha? Depois de todas as juras que fizemos?
– Anita, não é nada do que você está pensando – diz José.
– Eu...
– Quer ficar quieto, José? Eu estou falando com ela.
José aponta para Sueli.
– Com ela?!
– Anita – diz Sueli –, vem cá.
Anita se junta ao grupo. Sueli a abraça.
– Pronto, pronto – diz Sueli.
– Roça a nuca dela com o queixo – instrui José.
– Assim?
– É.
Ficam os quatro de pé no meio da sala. Roberto mordiscando a orelha de Sueli, que roça a nuca de Anita com o queixo, e fazendo cafuné em José, que, sem ter o que fazer, pergunta:
– O caso de vocês duas começou antes ou depois do nosso casamento?
– Não é a hora, José – diz Sueli.

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